Dioniso, patrono grego do quinhão dos artistas e atores, deus do vinho e do carnaval, esteve em nossa escola para abrir as festividades, que anualmente ocorrem em comemoração ao Dia Mundial do Teatro (27 de março).
Contando com um público cada vez maior - nesta 4˚ edição repetimos o sucesso da anterior, com cerca de quatrocentas pessoas circulando entre as cenas e atividades - o Dia do Teatro do CIL congrega toda a comunidade: alunos, pais, amigos e professores, em torno da arte. As manifestações artísticas não se restringem ao grupo de teatro, mas abrem espaço para os músicos (Banda composta por alunos do CIL e o Grupo Matiz, que toca o samba no final do evento), para os fotógrafos (a exposição deste ano contou com imagens de vários artistas, entre eles Sérgio Dotta Jr., que há um bom tempo acompanha os momentos especiais do grupo) e para todos aqueles que se sentem motivados a mostrar seu talento e colaborar.
Na edição deste ano tivemos uma novidade que agradou a todos. Pela primeira vez encenamos na íntegra dois textos em alemão: Hänsel und Gretel (Irmãos Grimm) e Herzstück (Heiner Müller), além de trechos de outras peças faladas em língua estrangeira, tais como "Macbeth" (de William Shakespeare).
As atividades em língua alemã contaram com o valoroso suporte da Coordenadora do Núcleo de Idiomas do CIL, Marlene Desidério, e da professora Andrea Schäuffele, que dirigiu a dicção e a pronúncia dos atores em alemão, além de ter corrigido nossa tradução das cenas de "Dreigroschenoper" (B. Brecht), também apresentadas no evento. Às duas, nosso sincero agradecimento. Agradecemos também à professora Mônica Coelho, pela trilha sonora de Hänsel und Gretel.
O Dia do Teatro no CIL veio pra ficar! Não só porque os alunos-atores sejam maravilhosos e apaixonados pelo teatro. Não só porque as professoras Érika e Valéria, incansáveis, visionárias e perfeccionistas, trabalham com a Alegria de ensinar e aprender sempre, não só porque as diretoras Evelyn e Silvana incentivam as artes em todas as instâncias, mas porque neste evento a escola consegue juntar o que para a maioria parece não associável: adolescentes, rock' n roll, exposição de fotos, cenas de teatro, pais, professores, alunos de todas as idades, sopa e samba!
O segredo é que a mágica se dá no CIL como na Sopa, tradição que resgatamos da Escola de Arte Dramática especialmente para o Dia do Teatro: ingredientes aparentemente estranhos se misturam criando um caldo irresistível e muito bom.
Dioniso é o "estranho", o deus "estrangeiro" e lá está ele, em nosso Dia do Teatro!
A sopa que ao final da noite degustamos, vem para alimentar o corpo, depois da alma já haver bem ceado. Finalizamos com as palavras de um poeta. Se puderem entender o que há nesse texto de Rubem Alves, poderão entender nosso Dia do Teatro: "As sopas se fazem negando as coisas, na sua realidade natural bruta e transformando-as por meios das relações insólitas que o caldo torna possíveis".
Se Deus me
dissesse para escolher a comida que eu iria comer no céu, por toda a
eternidade, eu não teria um segundo de hesitação: escolheria sopa. (…) Minha
relação com as sopas é mais que gastronômica: é uma relação de ternura. Elas me
reconduzem à cozinha de minha casa de menino, ao fogão de lenha, às tardes de
inverno. (…) Para mim a sopa é um sacramento de intimidade: um objeto físico,
presente, no qual vive uma felicidade que se teve, ausente. A sopa quente me
transporta para outros lugares, outros tempos. Faço e gosto de sopas frias. Mas
falta a essas sopas sofisticadas o elemento sacramental: elas não me levam a
lugar algum. (…) As sopas fundamentais se fazem com sobras, destinadas ao lixo.
A sopa é uma poção mágica por meio da qual o que estava perdido é salvo da
perdição e reconduzido à circulação da vida e do prazer.
A imaginação de
Bachelard diz que a matéria também imagina. A água imagina arcos-íris. As
sementes imaginam flores e árvores. O mármore imagina ‘Beijos’ (Rodin) e Pietás
(Miguel Ângelo). O rios imaginam nuvens (Heládio Brito). As comidas também
imaginam. O churrasco imagina espetos, facas, garfos(…) O churrasco precisa de
perfurações, cortes, dilacerações.
Já a sopa é mansa. Não é para ser comida. O
gesto é o de ‘colher’: a colher colhe, sem violência.
As sopas se
fazem negando as coisas, na sua realidade natural bruta e transformando-as por
meios das relações insólitas que o caldo torna possíveis. O caldo da sopa é o
meio mágico que junta no caldeirão aquilo que, na natureza, nasceu separado.
Creio ser impossível catalogar as combinações possíveis: fubá, trigo, batata,
alho, cebola, nabo, cenoura, tomate, ervilha, ovo, abóbora, mandioca, cará,
inhame, carne, peixe, galinha, mariscos, repolho, couve, beterraba, aspargo,
palmito, feijão, arroz, queijo, azeitona, pão, maçã, abacate, temperos,
pimentas, orégano, tandore - uma canja verdadeira não é canja se lhe faltarem
algumas folhinhas de hortelã. E é preciso não nos esquecermos que sopa é a única
comida que pode ser feita com pedra, como nos é relatado numa das estórias clássicas
que se conta para crianças e adultos.
Gosto das sopas, ainda, por serem elas
entidades do mundo dos magos, bruxas e feiticeiros. No mundo mágico não se usa
churrasco. Magos, bruxas e feiticeiros fazem suas poções em enormes caldeirões
de sopa, como é o caso de Panoramix, druida do Asterix e do Obelix, que prepara
sua beberragem de força imbatível num caldeirão de sopa fervente.
Prefiro as
sopas rústicas - e fazê-las me dá um grande prazer. A sopa de fubá em suas múltiplas
versões, o caldo verde, a canja com hortelã, a multicolorida sopa de legumes:
sopas são sempre uma alegria. As sopas rústicas dão permissão para se jogar
nelas o pão picado. Haverá coisa mais feliz que isso? Reuno-me com alguns
amigos, às 3as. feiras, para ler poesia, ao redor de um prato de sopa.
Uma última
informação: sopas são remédios maravilhosos contra depressão. Quando a sopa
quente, cheirosa, colorida e apimentada, bate no estômago, a tristeza se vai e
a alegria volta. Não há melancolia que resista à magia de um prato de sopa...
(Concerto para corpo e alma, p. 69.)